Ponto Zero

Autor(a): Isarina Belma Amândio João

O teu pai está morto. Jogou-se da janela. Que dor era aquela? Que sentimento era aquele? Seria aquilo morrer também? Afinal quem morre não morre sozinho, leva consigo outros. Leva os que ficam. Como quem fica sem pedaço, deixou-se cair e chorou. Chorou como se o mundo estivesse a acabar e, de facto, estava. O mundo que até então conhecera tinha acabado. Nada seria igual. O seu pai estava morto. Tão perto e tão longe de si. Estendido no chão. Deitado, como se estivesse a dormir. A poça de sangue à sua volta mostrava que aquele era um sono diferente, um sonho do qual ele jamais iria acordar. Um pesadelo que a sua família iria enfrentar. Foi ali, naquele momento, que todas as palavras que tinha dentro de si começaram a saltar, a ganhar vida. Elas queriam soltar-se. Viajar pelo teclado. Ser livres. Elas passaram a desprender-se da mente e a fazer aquilo que ela não conseguia fazer - falar. Elas ganharam vida e estão expressas aqui. Esta é a história [em poemas] dela, que também é a minha porque o homem ali estendido era - é - o meu pai.